Reflexões sobre a ética empresarial e o poder do consumidor em moldar a qualidade dos produtos e serviços em um mercado afetado pela ‘reduflação’.
Você já reparou que os produtos nas prateleiras dos supermercados estão cada vez menores, mas os preços permanecem inalterados?
Vivemos em uma era em que a relação entre o que pagamos e o que recebemos está cada vez mais tênue, mais diminuta.
Um fenômeno preocupante, apelidado de “skimpflation,” ou “reduflação” como é conhecida no Brasil, está se tornando cada vez mais comum, corroendo a qualidade de produtos e serviços, enquanto os preços permanecem aparentemente inalterados.
A combinação das palavras “skimp” (poupar) e “inflation” (inflação) é um termo que reflete essa prática sorrateira.
Esse fenômeno tem passado despercebido pelos olhos dos consumidores, mas sua relevância ética não deve ser subestimada.
A “skimpflation” é um tipo de inflação que ocorre nas prateleiras dos supermercados e em diversos setores.
A essência desse fenômeno reside na redução do tamanho das embalagens (quantidade) dos produtos, sem que o preço seja reduzido na mesma proporção. No entanto, essa prática não se limita apenas a diminuir a quantidade do que compramos; as empresas também estão restringindo a qualidade e a disponibilidade de serviços, mantendo os preços estáveis, quando não acima.
À medida que os preços das matérias-primas aumentam devido à inflação, as empresas buscam economizar, cortando gastos em serviços ou materiais, e esses cortes acabam sendo repassados aos consumidores, mesmo quando o preço final “parece” inalterado.
A “skimpflation” pode se manifestar de diversas maneiras, desde a diminuição da força de trabalho, que resulta em menos funcionários para atender os clientes, até a degradação da qualidade dos produtos, com a substituição de ingredientes de alta qualidade por alternativas mais baratas, ou a diminuição do tamanho das embalagens, reduzindo a quantidade do produto.
Um exemplo ilustrativo ocorreu em 2021, quando a Disney foi criticada por reduzir os serviços em seus parques temáticos, enquanto os preços dos ingressos permaneciam inalterados. Durante a recuperação pós-pandemia de COVID-19, a empresa não reintegrou o serviço de bondes para o transporte de visitantes aos estacionamentos, forçando os visitantes a enfrentar longas caminhadas. Somente após a reação indignada dos clientes, a Disney gradualmente restaurou o serviço.
A desconsideração com o consumidor ganha ares de engodo, quando a empresa mantém embalagem que, à primeira vista, é idêntica a tradicionalmente conhecida do público (mínimas diferenças), a mesma marca, e altera a fórmula da composição do produto com matéria prima de qualidade inferior, ou o tamanho da embalagem/quantidade, e chega a expor o produto “mascarado” ao lado do “original”, com preço um pouco abaixo, intencionalmente confundindo o comprador.
Em resumo, há redução do tamanho e da quantidade dos produtos, enquanto, ainda, fabricantes de alimentos substituem ingredientes caros por alternativas mais baratas, mantendo os preços ou até mesmo aumentando-os.
Embalagens menores, preços maiores; mesma marca, produto diferente: a estratégia silenciosa das empresas para aumentar lucros em detrimento da ética e da qualidade negocial.
O problema da “skimpflation” é generalizado e afeta vários setores, mas nem sempre é perceptível para os consumidores de imediato, devido à dificuldade de identificar essas mudanças em tempo real.
Afinal, quem primeiro lê a composição de cada produto antes de cada compra? Quase sempre, a decisão se dá pelo preço na etiqueta.
Identificar a qualidade nem sempre é simples, como afirma Joseph V. Balagtas, professor associado de economia agrícola na Universidade Purdue. É mais fácil notar a redução do tamanho dos produtos do que perceber que o café da sua cafeteria local não usa mais ingredientes orgânicos.
A prática da “skimpflation” não é restrita aos produtos, pois também afeta os serviços.
Em setores de serviços, a escassez de mão de obra e o esgotamento físico-emocional, pela sobrecarga, entre os trabalhadores, resultam em serviços mais lentos para os consumidores.
Em alguns hotéis, a oferta de serviços de limpeza nos quartos tornou-se uma opção a ser solicitada (??!!) (se não solicitar, não trocam nem a toalha de banho), apesar dos preços das diárias permanecerem os mesmos.
Para combater a “skimpflation“, ou “reduflação”, os consumidores precisam ser vigilantes, críticos severos, e comparar produtos e serviços para detectar as alterações feitas pelas empresas.
Embora algumas empresas optem por oferecer qualidade superior para se destacar da concorrência, isso pode implicar preços mais elevados para os consumidores.
Outra tática longe da ética é aquela em que a empresa reduz a qualidade em seu produto mais conhecido, mantendo seu preço de venda, e lança produtos “premium” ou “gourmet” (com a qualidade que era característica de seu produto mais conhecido), com preço bem maior, em embalagens com menor quantidade (para não “assustar” com o preço final-unitário), como se fosse algo mais, “produto novo”.
Enquanto enfrentamos a prática predatória da “lei de Gerson” (tirar vantagem de tudo), é essencial que os consumidores estejam atentos e façam escolhas bem-informadas para obter o melhor preço possível em produtos e serviços de seu interesse.
A ética empresarial reflete a ética do empresário.
A “skimpflation” está testando a ética das empresas e o discernimento dos consumidores.
A pergunta é: até quando o consumidor vai tolerar certas práticas comerciais de ética duvidosa e ganância declarada?
Não deixe de questionar sobre a responsabilidade das empresas na manutenção da qualidade e integridade de produtos e serviços.
Na dúvida, opte por não comprar esse ou aquele produto.
Exercite o seu poder de escolha!
Seja fiel aos seus valores e princípios pessoais e comportamentais, e não às marcas de produtos.
Prestigie a marca que já o prestigia e respeita como consumidor.
O consumidor necessita se reconhecer como quem, de fato, determina a sobrevida de produtos e serviços.
Você tem conferido o preço dos produtos em geral, comparando-o com o preço do mês passado (ou até da semana anterior), comprado na mesma loja? Com o aumento constatado, conseguiu encontrar razão econômica justificável para tal aumento de preços?
Como os consumidores podem forçar as empresas a aderirem a padrões éticos e de qualidade?
Quando a maioria de consumidores deixar de consumir um determinado produto por um tempo, ou ele desaparecerá para sempre das prateleiras, ou será reapresentado ao público com padrão de qualidade e preço justo, homenageando, com respeito, aquele que volte a lhe prestigiar com a compra e o consumo.
O mesmo para serviços e prestadores de serviços.
Simples assim!
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